Algumas pessoas afirmam que a linguagem se tornou, ao longo do tempo, um instrumento para transmitir ideias poderosas. A linguagem está a serviço das pessoas e muda à medida que as pessoas a usam diariamente. Como resultado, termos marcados e não marcados tratam homens e mulheres de forma diferente, chamando a atenção das pessoas na academia e na vida profissional. Muitos acreditam que este preconceito de gênero é um sinal claro de sexismo na linguagem, que deve ser evitado como forma de diminuir a linguagem sexista.
Ao longo de décadas as mulheres têm sido subordinadas aos homens, e as convenções para abordar e referir-se a ambos os gêneros têm mostrado sinais óbvios de discriminação linguística, provando que a linguagem pode ser sexista (Graddol & Swann, 1989). Ao longo dos anos, as designações de gênero baseiam-se em expectativas de comportamento socialmente construídas nas quais os indivíduos e grupos funcionam. O comportamento social e psicológico apropriado para homens e mulheres é determinado e sancionado pela sociedade, o que leva a concluir que a gramática de fato pode moldar nossos pensamentos, conforme afirma Gastil, (1990). E tem um efeito psicológico nos usuários da língua.
A linguagem sexista não parece ser um problema meramente linguístico, mas também social. No passado, as mulheres deveriam ficar em casa, permanecendo subordinadas aos homens, enquanto o homem era considerado o centro tanto na família como na sociedade. Ao longo do tempo, os termos para se referir a um homem ou a uma mulher refletiram atitudes sociais em relação aos papéis tradicionais atribuídos às mulheres e aos homens.
Uma tendência compreende palavras claramente restritas em referência a um sexo ou outro, com palavras femininas tendendo a ter significados menos favoráveis. O fato de os papéis sociais das mulheres e dos homens não serem iguais na nossa cultura também tem o seu paralelo na linguagem. Um exemplo disso é o par ou palavras master e mistress[1], onde o significado masculino é “bom” e o feminino é “mau”, especialmente mistress é parceira para sexo extraconjugal.
Algumas pessoas afirmam que é importante que, como sociedade, compreendamos o preconceito e compreendamos que a linguagem é o veículo que comunica atitudes e influência o pensamento. É uma questão de nos educarmos, reconhecendo que as palavras têm significado no contexto ou no uso, compreendendo que o sexismo não está na linguagem em si, mas sim nas pessoas.
Atualmente, há um movimento para tornar a linguagem neutra. As pessoas deste movimento social afirmam que se quisermos ter sucesso na vida, aumentando as nossas oportunidades de sucesso, precisamos de começar a pensar em instruir-nos a nós próprios e instruir os outros numa linguagem neutra em termos de gênero. É fundamental analisarmos a linguagem sexista e descobrirmos como evitá-la sem comprometer as crenças que possamos ter, ensinadas provavelmente desde cedo em casa ou na escola.
Esses defensores da linguagem neutra em termos de gênero afirmam que, embora seja verdade que o sexismo não desaparecerá quase imediatamente apenas pela defesa de uma linguagem não sexista na comunicação acadêmica e profissional, também é verdade que cabe a nós fazer a nossa parte no combate ao sexismo, evitando linguagem que enfatize desnecessariamente o gênero, ofenda qualquer um dos gêneros ou exclua mulheres, ou homens. É nosso chamado escolher alternar ou decidir entre pronomes masculinos e femininos percebidos como preconceitos de gênero no texto. Afinal, a linguagem está nas pessoas, e são elas que moldam as suas experiências na forma como usam a linguagem.
[1] A palavra vem de uma forma feminina francesa de maistre, que significa “mestre”. O título Sra. é uma abreviatura de mistress, registrada pela primeira vez no início do século XVII, já que mistress era usada como um termo respeitoso para se referir a uma mulher casada. Atualmente mistress é entendida como amante.
Referências
- Graddol, D., & Swann, J. (1989). Chapter 5: Is language sexist? Gender Voices (pp. 95-134). Cambridge, MA: Blackwell.
- Gastil, J. (1990). Generic pronouns and sexist language: The oxymoronic character of masculine generics. Sex Roles: A Journal of Research, 23(11-12), 629-643.